domingo, 17 de janeiro de 2010

São Paulo: dias um e dois.

Estive sem internet ontem em meu primeiro dia de campo e não pude postar. Vou ver se falo alguma coisa dos dois dias hoje.

Apesar de que de ontem também não tem muito o que dizer, cheguei exausto da muito longa viagem de ônibus BSB-SP e em plena hora do almoço. Aliás, BSB-Osasco, já que estou ficando hospedado na casa de uma amiga da família. É ótimo, estou numa casinha nos fundos com bastante privacidade e internet wireless trocando minhas experiências de campo com minha colega de quarto cocker spaniel (aparentemente misturada com basset hound, mas há controvérsias).

Ainda assim, cambaleando que fosse, tomei coragem para ir à Rua Coimbra, afinal era sábado, dia de feira dos bolivianos. Os bolivianos tem duas grandes feiras na cidade, uma aos sábados, na Coimbra, mais bagunçada, cheia de camelôs de bugigangas, pirataria e comidas típicas em uma rua repleta de restaurantes e salões de beleza bolivianos. Até onde sei, a única rua essencialmente boliviana da cidade.

A outra é a da Kantuta, sempre aos domingos, muito mais organizada, regularizada pelo Estado, repleta de barracas de comida, objetos andinos típicos, barracas de cereais andinos, sempre bugigangas, claro, sempre um pouco de pirataria, e com direito a uma rádio local ao vivo (literalmente local, já que os radialistas ficam num palco dentro da praça com grandes caixas de som), quadra de futebol no centro (com jogos praticamente ininterruptos ao longo do dia), e pasmem - novidade até para mim, já que ano passado isso ainda não existia - um castelo inflável e uma piscina de bolinhas no centro para crianças.

Mas como eu dizia, o dia na Coimbra ontem foi fraco. Algumas rápidas entrevistas e algumas boas descobertas, é verdade, mas ainda preciso esperar pelos desdobramentos.

De qualquer forma, além do cansaço, descobri que estava com o castelhano mais enferrujado do que imaginava. Não praticava desde minha última ida a campo em julho e até tentei relembrar algumas coisas dando uma estudada no meu dicionário de bolso português-espanhol na viagem de ônibus de Osasco para Sampa. Não adiantou muito, fiquei nervoso e senti que meu espanhol saía um tanto enrolado. Somando-se a isso uma grande falta de vontade/tempo/desconfiança dos bolivianos da rua Coimbra, minha coragem para abordar mais pessoas foi água abaixo.

Para completar o dia, meu primeiro grande baque etnográfico desta viagem. Dois dos meus principais contatos da minha primeira saída de campo em julho do ano passado, o Angel e o José, que trabalhavam no restaurante El Campeón, voltaram para a Bolívia.

O Angel eu já imaginava porque havia me dito que costumava ir e vir com frequência, e que deveria ir novamente no fim de 2009. Só senti o baque no caso dele por saber que ele tinha ido dois dias antes de eu chegar.

O José me supreendeu mais. Estava em São Paulo havia anos, tem família aqui, falava português fluente, era editor de um jornal da comunidade boliviana além de gerente do restaurante, não imaginava que voltaria tão cedo. Não me disseram porque foi. Talvez demitido. Pelos olhares do gerente novo, parece que não tinham as melhores lembranças do José.

Claro, um primeiro dia de campo não pode ser completo sem contratempos com o gravador. Ano passado tinha resolvido que usaria minhas técnicas primitivas da graduação: etnotaquigrafia (conhecem?). 53 páginas mal escritas num caderninho depois, comprei um gravador. Fui estrear ontem, mas antes, na noite anterior, dei uma ligada para testar, ver como funcionava. Estava ótimo. Só que aparentemente funcionava tão bem que esqueci de desligar. Cheguei na Coimbra ontem e aonde que o gravador ligava?

E fui caminhando pela Bresser debaixo de uma típica garoa paulista em busca de um mercadinho que vendesse pilhas AAA.

(cansei, depois escrevo sobre hoje).

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